Desde a reabertura das fronteiras, em setembro de 2020, as importações de produtos manufaturados do setor têxtil oriundos do Paraguai têm se tornado mais atrativas do que importar produtos finalizados da China. Além das vantagens fiscais garantidas por acordos do Mercosul, o país vizinho oferece ainda custo baixo de produção e frete com valor mais atrativo que em países asiáticos. As barreiras sanitárias e as restrições no transporte aéreo e marítimo por conta da crise do coronavírus fizeram com que os custos de frete da China para o Brasil disparassem em 2020, elevando também os preços dos produtos. De acordo com importadores e empresas de navegação, o custo da importação de um contêiner na rota China-Brasil saltou de US$2 mil para US$10 mil entre 2019 e 2020, tornando o país menos atrativo para importadores brasileiros e voltando os olhos para o Mercosul.
De fato, hoje, a melhor operação é com o Mercosul. Além de um custo final mais baixo, o tempo de entrega do Paraguai para o Brasil é bem menor, o que facilita na hora de suprir uma demanda do setor têxtil, especialmente no que diz respeito a produtos de cama mesa e banho, onde o consumo se manteve aquecido. Esses produtos têxtis, quando finalizados no Paraguai, são beneficiados pela Lei Maquila, dá isenção total de impostos paraguaios para produtos que tenham ao menos 40% de valor agregado naquele país, mesmo que partes dele venham de outros países. Além do baixo custo de frete e a isenção de quase 100% dos tributos, o baixo custo com mão de obra, energia elétrica e agilidade na entrega são fatores citados por importadores para dar preferência aos produtos manufaturados no Paraguai.
No auge da pandemia brasileira, diversas remessas da China foram canceladas por conta do lockdown, e quem não tinha volume de mercadoria estocado sofreu bastante. Muitas empresas faliram. Quem conseguiu se segurar e foi capaz de se reorganizar, saiu fortalecido. De acordo com informações do Centro Nacional de Navegação Transatlântica – entidade associativa que representa 97% do comércio exterior de contêineres – entre março e julho, foram canceladas 23 viagens de navios da China. O número equivale a ao menos cinco semanas sem importações de contêineres do país. Muitas empresas deixaram de fazer pedidos, houve cancelamentos, mas a demanda por produtos não caiu como esperado. O que vimos foi uma mudança no comportamento do consumidor. Os gastos que iriam para viagens e saídas foram para itens de casa e home office. No setor têxtil, o consumo de itens de vestuário caiu e de produtos de moda casa aumentou. Com o aquecimento inesperado desse mercado, faltaram produtos.
Em meados do ano, ficou claro para as empresas que seria necessário retomar os pedidos. O aumento, porém, coincidiu com a retomada na Europa e nos Estados Unidos, levando a uma disputa acirrada por contêineres e embarcações. Hoje, praticamente todos os navios disponíveis no mundo estão em uso, segundo a Centronave. Resultado: os fretes dispararam e, mesmo passada a demanda das festas de fim de ano, os valores continuam em alta.
A situação se agrava porque a pandemia também reduziu a eficiência na liberação das cargas em portos, terminais e armazéns, que também sofreram com as medidas de isolamento social e o reforço nos protocolos de vigilância sanitária. O novo lockdown em São Paulo piora ainda mais esse cenário. Com tudo isso, o frete terrestre vindo do Paraguai é muito mais vantajoso. E o avanço nas obras da segunda ponte que liga Brasil e Paraguai também é promissor. Na Matrix Importações, uma das mais antigas importadoras do setor têxtil no Brasil, que antes tinha 60% de pedidos oriundos da China, hoje mantém apenas 20% vindo de lá e 80% agora vem do Paraguai – são 2 mil carretas por mês, com um total de 140 mil tapetes, 400 mil cobertas e 200 jogos de lençóis que são finalizados no país vizinho.
Outro marco no aumento das importações do Mercosul foi o Acordo sobre Facilitação do Comércio Mercosul, assinado durante a 55ª Cúpula de chefes de Estado do Mercosul em dezembro do ano passado. O instrumento, além de simplificar e desburocratizar as operações no bloco, traz importantes inovações, com ganhos concretos para as empresas brasileiras.
O acordo elimina procedimentos e taxas consulares na região, desonerando as exportações brasileiras em até US$ 500 milhões ao ano, e também institui prazos a serem cumpridos pelas aduanas, que não poderão demorar mais do que de 12 horas para liberar mercadorias – quando não for necessário procedimento de verificação física ou documental.
O novo acordo do Mercosul oferece, também, previsões importantes para o uso de tecnologias no processamento das exportações e importações, com o intuito de reduzir tempos e custos das operações. São medidas relacionadas ao emprego de documentos eletrônicos, pagamento eletrônico, interoperabilidade entre janelas únicas de comércio exterior, reconhecimento mútuo de Operadores Econômicos Autorizados (OEA), automação na gestão de riscos e acessibilidade de sistemas eletrônicos para usuários da administração aduaneira.
O Acordo sobre Facilitação de Comércio do Mercosul será, portanto, ferramenta essencial para a desburocratização, redução de custos e aumento do fluxo de comércio entre os países do bloco. Sua conclusão reforça o compromisso do Mercosul com a integração comercial e o fortalecimento das condições de competitividade de suas economias. E o acordo, somado aos benefícios oferecidos pelo Paraguai, tornam o país um fornecedor mais interessante no mercado têxtil. Esperamos, portanto, que em 2021 o volume de importação deste país cresça ainda mais.
Leandro Martins de Almeida, CEO e Diretor de Operações da empresa Matrix Importações
Leandro Martins de Almeida